O desenvolvimento de atletas é consequência de uma cadeia complexa de fatores, incluindo características culturais, ambientais e socioeconômicas, além dos aspectos pessoais. Embora as trajetórias esportivas sejam individuais e repletas de particularidades, atletas tendem a vivenciar um percurso semelhante, no qual o suporte institucional é fundamental para o respeito às individualidades e à efetivação de adaptações adequadas a realidade de cada modalidade esportiva.
Neste contexto, convidamos a comunidade esportiva a refletir sobre o desenvolvimento holístico de atletas, a partir do Modelo de Desenvolvimento Esportivo do COB (MDE-COB).
CARREIRA ESPORTIVA
A carreira esportiva corresponde à trajetória que atletas percorrem buscando atingir altos níveis de desempenho e ocorre em constante interação com outras esferas de suas vidas (domínio psicológico, psicossocial, acadêmico/vocacional e outros). Essas dimensões, quando combinadas de modo equilibrado e respeitando as características e objetivos de cada etapa, tendem a sustentar carreiras esportivas mais bem-sucedidas. A progressão por diferentes etapas é acompanhada por constantes períodos de transição, incluindo desafios e oportunidades, por vezes não planejadas, além de ser influenciada pelo ambiente, abrangendo família, colegas, treinadores/as, aspectos culturais, entre outros.
EXPERIMENTAR E BRINCAR - ATÉ ± 8 ANOS
Experimentar variadas formas de se movimentar em jogos e brincadeiras lúdicas com segurança e liberdade, visando despertar o prazer, a curiosidade e o desejo de brincar de praticar esporte é o foco desta etapa. Assim, as práticas corporais devem contribuir para o processo de letramento corporal, que consiste em desenvolver autoconfiança, motivação, além de competências básicas e diversificadas nas esferas físico-motoras, psicológicas e sociais. Familiares e professore(a)s têm papel central neste processo, por serem responsáveis pelas primeiras vivências esportivas na primeira infância. SAIBA MAIS!
BRINCAR E APRENDER - DE ± 6 A ± 12 ANOS
É o primeiro contato com o esporte mediado por treinadore(a)s em programas estruturados de iniciação. Praticantes continuam seu processo de letramento corporal a partir de experiências multiesportivas voltadas ao desenvolvimento geral, sem foco em modalidade específica. O objetivo é desenvolver competências corporais amplas e diversificadas, que permitam uma prática esportiva criativa e autônoma, favorecendo que crianças mais ativas e saudáveis pratiquem esportes por toda a vida. Familiares ainda são importantes estimuladores, mas a relação com pares e o pertencimento ao grupo social ganha maior relevância. SAIBA MAIS!
APRENDER E TREINAR - DE ± 9 A ± 16 ANOS
Marca o início da especialização em uma ou mais modalidades, aumentando a periodicidade e especificidade dos treinos e participação em competições, que devem ser adequadas às necessidades formativas de atletas nesse período. É um momento importante para identificar jovens com potencial para o Caminho da Medalha. Para tal, o objetivo dessa etapa é engajar na melhoria do desempenho, aprimorando competências emocionais e corporais para lidar com cargas iniciais e progressivas de treino e competição. Porém, é fundamental equilibrar o esporte com os demais compromissos pessoais, sociais e escolares. SAIBA MAIS!
TREINAR E COMPETIR - DE ± 14 A ± 23 ANOS
É o ingresso na rota do esporte de rendimento, o Caminho da Medalha. Essa etapa compreende a passagem de atletas pelas categorias de base até a transição para a adulta. Com isso, intensificam-se os treinos e a quantidade e complexidade das competições. O processo de desenvolvimento deve ser cada vez mais consciente, voltado para o desempenho, mas também para a recuperação, prevenção de lesões e aprendizagem de habilidades para fora do esporte. É fundamental que aqui os atletas tenham as condições necessárias para seguirem melhorando o seu desempenho de forma contínua em um ambiente seguro e saudável. SAIBA MAIS!
COMPETIR E VENCER - DE ± 18 A ± 25 ANOS
É um período de afirmação no Caminho da Medalha, com atletas consolidando sua carreira esportiva e alcançando o alto nível de rendimento, podendo atingir níveis mundial e olímpico. É necessária maior dedicação ao esporte com o aumento de exigências e responsabilidades da carreira, demandando ajustes em relação à rotina, hábitos e comportamentos associados à saúde e à otimização de desempenho. Assim, o objetivo dessa etapa é preparar atletas para atingirem o máximo desempenho e resultado. O suporte interdisciplinar, financeiro, logístico, infraestrutura adequada e ações de monitoramento do desempenho esportivo são essenciais para alcançar a excelência. SAIBA MAIS!
VENCER E INSPIRAR - DE ± 22 A ± 40 ANOS
Nessa etapa, atletas se consolidam no esporte de elite e devem se manter motivados/as a atingirem os melhores resultados nas principais competições, como os Jogos Olímpicos. Com isso, é necessário intensificar cuidados com saúde que, atrelado ao autoconhecimento e domínio dos processos de treino em alto nível de desempenho, prolongarão a qualidade da carreira e da vida de forma saudável. A partir de sua história de conquistas, nesse período atletas se tornam fontes de inspiração aos jovens. É desejável que, ao final dessa etapa, integrem programas de transição ao pós-carreira, iniciando seu planejamento para ingressar em uma nova função, dentro ou fora do esporte. SAIBA MAIS!
INSPIRAR-SE E REINVENTAR-SE
Após iniciarem o planejamento para o encerramento da carreira de atleta na etapa anterior, é nessa etapa que a transição para o pós-carreira se materializa. A inserção em uma nova carreira torna esse período complexo e delicado, pois muitos/as atletas encerram suas carreiras esportivas relativamente jovens. Vale reforçar que as características dessa etapa podem estar presentes em diferentes períodos do Caminho da Medalha, considerando os múltiplos momentos de saída do sistema esportivo de rendimento.
MENINAS E MULHERES
Devido a barreiras culturais, historicamente meninas e mulheres tiveram menos oportunidades de se envolverem com a prática esportiva. Apesar do recente avanço da participação feminina no esporte, de acordo com o Ministério da Mulher, em 2023, enquanto 45,8% dos homens adultos praticaram o nível recomendado de atividade física no tempo livre, entre as mulheres essa proporção foi de 36,2%. Sabemos que o maior abandono da prática esportiva ocorre na adolescência, afetando mais meninas que meninos. São vários os motivos que levam a isso, incluindo falta de perspectiva de carreira profissional, o relacionamento com treinadores/as, questões de autoestima e um ambiente seguro e livre de abusos. Os desafios também se estendem na ocupação de cargos de liderança, treinadoras, árbitras e gestoras.
Com objetivo de mudar esse cenário, em alinhamento com a Agenda 2020+5, o MDE-COB estabelece uma série de orientações e medidas visando promover ações de desenvolvimento esportivo, respeitando as especificidades de meninas e mulheres. Com isso, pretende-se melhorar o ambiente destinado ao desenvolvimento de meninas e mulheres no esporte, aumentando a representatividade feminina e contribuindo com a construção de uma sociedade mais igualitária, diversa e inclusiva.
GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO
O Desenvolvimento Esportivo é um processo longitudinal e multifatorial de melhoria do ambiente esportivo, caracterizado pelo aumento na quantidade de praticantes em todos os níveis e na qualidade da prática oferecida, incluindo a formação continuada dos agentes desse processo, o que resulta na melhora do desempenho de atletas.
Compreender os fatores determinantes ao desenvolvimento esportivo permite com que organizações promovam intervenções de maneira assertiva. Oferecer suportes e recursos de forma coordenada entre os diferentes agentes que compõem o sistema é fundamental para garantir um desenvolvimento esportivo sustentável e em longo prazo.
O COB atua com as confederações brasileiras na elaboração de estratégias para melhoria do sistema de desenvolvimento do esporte de alto rendimento. Com suporte especializado, o COB trabalha em parceria com as confederações para estruturar o Caminho de Desenvolvimento de Atletas das diversas modalidades Olímpicas, baseado nas premissas do MDE-COB.
